domingo, 25 de maio de 2008

Atleta catarinense participa de treinos para as paraolímpiadas da China

Paulo Roberto Homem atual na equipe brasileira de goalball


Paulo Roberto Homem é o primeiro atleta com deficiência visual de Santa Catarina, a ser convocado para treinar junto à seleção brasileira masculina de Goalball.
Associado da Associação Catarinense Para Integração do Cego - ACIC, Paulo começou a participar da modalidade através do projeto Sábado no Campos, desenvolvido pelocurso de educação física da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC em parceria com a ACIC, entidade representada pelo atleta em diversos torneios como, por exemplo, a Copa Brasil de Goalball onde Paulo apresentou suas habilidades e agora está treinando com a seleção em fase preparatória para os jogos paraolímpicos de Pequim.
Acompanhe abaixo trechos da entrevista do atleta para o blog Pátria Inclusiva e saiba um pouco mais sobre essa modalidade.
Josué: Você está exatamente treinando aonde?
Paulo: Estou nesse momento treinando aqui na Paraíba, descansando no hotel e depois vamos voltar para o ginásio.
Josué: Perfeito. E quantos atletas estão treinando nessa fase?
Paulo: Estamos em oito atletas, e desse grupo ficarão somente seis jogadores que irão compor a seleção. Os selecionados serão inscritos para os jogos paraolímpicosde Pequim na China.
Josué: Quantos atletas foram convocados desde o início da primeira etapa?
Paulo: Inicialmente foram convocados dez atletas.
Josué: Podemos considerar que seria a última fase?
Paulo: Em termos de corte, sim.
Josué: Como está sendo seu rendimento?
Paulo: Satisfatório. Mas o nível é muito alto. Melhorei muito desde a última etapa dos treinos. A responsabilidade da comissão técnica é muito grande em decidiros seis atletas, pois todos têm boas chances de ir para China.
Josué: como estão sendo realizados os treinamentos em termos de preparação?
Paulo: Estamos treinando três horas pela manhã e três horas à tarde. Começamos no dia 19 de maio e vamos treinar até o dia 29.
Josué: Quantos profissionais estão envolvidos no acompanhamento dos treinos?
Paulo: Ao total são sinco pessoas incluindo técnico, massagista e ect.
Josué: Você é o único representante da região sul?
Paulo: De Santa Catarina sim. Mas também a representante do Paraná.
Josué: Agradeço por sua disponibilidade em atender-me. Estamos todos torcendo por você mano. Como o Brasil, ainda não possui medalhas nessa categoria nos jogos paraolímpicosvocê poderá entrar para a história.
Paulo: Vamos ver se vai dar tudo certo para a gente representar floripa na China.
Goalball
Esta modalidade foi criada especialmente para os deficientes visuais, ao contrário de outras, que foram adaptadas. Em 1946 o austríaco Hanz Lorenzene o alemão Sepp Reindle desenvolveram uma atividade para ajudar na reabilitação de soldados veteranos que haviam adquirido a deficiência visual durante a SegundaGuerra Mundial. Era o goalball.
Nos Jogos Paraolímpicos de Toronto, em 1976, o esporte foi disputado em caráter de exibição e a partir dos Jogos de Arnhem 1980, na Holanda, entrou parao programa da competição. As mulheres fizeram sua primeira participação nos Jogos de Nova York 1984. Em 1978, na Áustria, foi realizado o primeiro Campeonato Mundialda modalidade. Atualmente é praticado nos cinco continentes do mundo.
Como é jogado
É um esporte coletivo, onde participam duas equipes de três jogadores, com no máximo, mais três atletas reservas. Competem, na mesma classe, atletas classificadoscomo B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da International Blind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculina e feminina.
O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajetória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade deorientação espacial do jogador para saber onde está localizada. Por isso o silêncio absoluto é muito importante para o desenvolvimento da partida.
O principal objetivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de gols em dois tempos de 10 minutos jogados.Os três jogadores atacam e defendem.
O local de competição deve ser um ginásio com uma quadra retangular, dividida em duas metades por uma linha central, com um gol (de 9 metros de largurae 1,3 de altura) em cada extremo. Não é permitido o uso de próteses, óculos ou mesmo lentes de contato. Todo jogador deve usar vendas de pano totalmente opacas (ouóculos opacos de esqui), de modo que aquele que possui visão residual não possa obter vantagem sobre um companheiro seu totalmente cego.
No Brasil
O esporte chegou ao Brasil através do professor Steven Dubner no Clube de Apoio ao Deficiente Visual (CADEVI), de São Paulo, em 1985.
Foi implantado como modalidade oficial da ABDC pelo professor Mario Sergio Fontes, que levou o goalball inicialmente para a Associação dos DeficientesVisuais do Paraná (ADEVIPAR), em 1986 e, no ano seguinte realizou o primeiro Campeonato Brasileiro, na cidade de Uberlândia (MG).
Hoje, 46 equipes masculinas e 43 femininas, filiadas à Confederação Brasileira de Desportos para Cegos - CBDC praticam essa modalidade.
Fonte:

sábado, 24 de maio de 2008

DESAFIO BRASILEIRO SOBRE O GELO

O treinamento de Marcos Henrique Lima iniciou no dia 20 de janeiro na cidade de Jeseník, nas montanhas da República Tcheca. Organizada pelos professores docurso de educação física adaptada da Universidade Palackého de Olomouc. Marcos passou a ser o primeiro brasileiro cego a ter participação nas oficinas de esqui direcionadasa prática dos esportes de inverno. O idealizador deste projeto foi o professor de educação física Gabriel Mayr, especialista em esporte para cegos que acompanhouo treinamento para se tornar técnico e guia de Marcos. O responsável pelas etapas de formação dos dois brasileiros foi o técnico da seleção Tcheca de esqui para deficientes visuais Zbynek Janecka. Todo o registro esteve aos cuidados da jornalista Thaís Castro, diretora cultural da URECE, entidade apoiadora do projeto e da qual Marcos é vice-presidente. De acordo com a entrevista de Marcos a divulgação promovida pelos veículos de comunicação foram um dos objetivos alcançados pelo projeto ganhando até matérias de âmbito internacional destacado no vídeo abaixo pela jornalista Maura Ponce de Leonno postado no jogo extra.
Outro ponto destacado na entrevista de Marcos Lima na postagem anterior estava relacionado com o tempo necessário de descanso para a recuperação do esquiador.
Relata Marcos em seu blog:
Terceiro Dia, a Crise.
No terceiro dia de aprendizado, o esquiador iniciante (principalmente o esquiador cego), normalmente apresenta uma queda acentuada no seu rendimento. O que acontece é que o cérebro recebeu tantas novas informações nos dois dias anteriores, que este necessita de um tempo para processá-las para só depois poder armazená-las corretamente. Não, fiquem tranqüilos que isso não é uma desculpa para justificar um mau desempenho. São palavras do meu professor, que, felizmente, foram ditas antes do dia começar. Assim eu não fiquei me sentindo tão mal quando não consegui realizar com a mesma desenvoltura movimentos que eu vinha fazendo bem até ontem.
Toda a perseverança de Marcos Lima foi com certeza o principal ingrediente para o sucesso de sua empreitada, que apesar de ainda estar longe da realidade dos esportes adaptados de atletas brasileiros é o referencial para a sociedade de modo geral indicando que a pessoa com deficiência pode superar e suportar inúmeros desafios.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrevista com Marcos LimaPrimeiro Cego Brasileiro a

Marcos Lima


Acompanhe minha entrevista com o primeiro cego do Brasil a esquiar na República Tcheca.


Josué: Você acredita que a cegueira ajudou a vencer o medo, pelo fato de não estar enxergando?

Marcos: Ajudou. Claro que atrapalha porque a gente tem medo do desconhecido, não só a gente cego, mas a gente ser humano. O ponto está em saber se seria maior o medo do desconhecido ou o medo da altura. E eu sinceramente, acho que o medo da altura seria maior, portanto eu acredito que tenha levado alguma vantagem, risos. Mas me ajudou muito o fato de sempre ter praticado esporte, de ser jogador de futebol, porque eu já tinha um conhecimento corporal que me ajudou muito. Não só porque eu sabia cair e por isso não tinha medo quando caía, mas também porque no futebol eu estou acostumado a correr contra o desconhecido, de não saber exatamente o que está à minha frente e ainda assim correr. E isso eu fazia no esqui. Claro, que o futebol me ajudou muito. Teve um dia em que o meu treinador foi me ensinar a cair, e ele ficou espantado porque ele descobriu que eu sabia cair. E eu só sabia cair porque se eu não souber cair no futebol, eu não posso jogar.

Josué: você já havia passado por alguma experiência semelhante antes?

Marcos: Nunca tinha tido nenhuma experiência com esqui não. Eu. Conheci o equipamento de esqui numa loja quando cheguei na Bélgica.

Josué: A prática do esqui em relação ao futebol, apresenta situações diferentes em termos de velocidade ou para você é a mesma coisa?

Marcos: Mas eu não comecei logo a plena velocidade, eu comecei com uma pessoa me acompanhando a cada movimento. A velocidade e as curvas, que é o que dá mais medo, vem aos poucos. E, quando elas vem já estava acostumado. Não saí esquiando profissionalmente, precisaria de mais algum tempo para isso, mas minha evolução foi muito elogiada. E eu tenho certeza que foi pelos conhecimentos corporais que eu já levava. Se fosse um cego que nunca praticou esporte, certamente ele teria tido muito mais dificuldades.

Josué: Fale um pouco sobre o projeto, e o exercício do bambu?

Marcos: Fundei com alguns amigos. O projeto foi meu e do Gabriel Mayur, que é o gerente de projetos da Urece e que está cursando mestrado em desporto adaptado na República Tcheca. Abriu um curso de esqui para deficientes na universidade dele e ele me chamou para fazer parte. E daí corremos atrás de parceiros para que a viagem fosse possível. Conseguimos levar uma jornalista para registrar a experiência, e isso proporcionou a divulgação do evento, já que as TVs só aceitavam fazer a matéria se tivessem imagens feitas de eu esquiando. O exercício do bambu, você viu isso, hehe. Foi muito engraçado, porque eu não sabia de onde vinha a pancada para me derrubar. Me ajudou a ter uma reação melhor, um reflexo que sem dúvida foi importante para mim nas montanhas.

Josué: Qual era o tempo em média de cada atuação sua? havia um tempo pré-determinado ou era de acordo com o q você poderia suportar em termos de condições climáticas e preparo físico?

Marcos: eu não estava competindo. Estava la'treinando e aprendendo, não necessariamente nessa mesma ordem. Por isso, o tempo quem determinava eram meus treinadores.Em geral, cada sessão tinha uma ou duas horas pela manhã e o mesmo tempo à tarde. Mas as vezes o treinador exigia que eu ficasse um dia de repouso ou no mínimo um período, porque ele acredita que os deficientes visuais têm certa dificuldadede assimilar movimentos muito novos por longos períodos sem descanso. No terceiro dia, quando eu fui praticar quando o certo seria descansar. Foi o dia em que eu mais errei, mas errar e cair também faz parte. Meu treinador disse que eu precisaria daquele descanso para que o meu cérebro pudesse processar todos os movimentos. Mas como a temporada era curta, eu tinha que aproveitar todos os momentos.

Josué: E qual seria o seu objetivo a ser alcançado? Dentro desse projeto? Competir?

Marcos: O meu treinamento fez parte do projeto de eu me tornar o primeiro cego brasileiro a esquiar, porque queríamos, com isso, não só chamar a atenção para aurece 9a associação que conseguiu esse projeto) como também para os deficientes visuais em geral. Esqui é um esporte radical e então se um cego pode fazer,ele pode fazer muito mais coisas do que as pessoas em geral imagina. Isso foi uma forma de tentar quebrar um pouco o preconceito que a gente vive diariamente. Mas difícil do que esquiar , é andar pelas cidades Claro que se tiver patrocínio e condições, eu quero continuar, tentar chegar a algum patamar internacional,mas o primeiro passo tinha que ser dado e felizmente a gente conseguiu ser pioneiro nisso Para chegar a competir, eu tenho que treinar muito mais. o tempo estipulado de aprendizagem para um deficiente visual é de três invernos. Eu, em um inverno,consegui progredir dois invernos. Ou seja, para eu começar a pensar em competir, ainda teria que passar por mais um período de aprendizagem e então me inscrever e começar a disputar. Daí para chegar a uma Paraolimpíada, tem um longo caminho pela frente. Mas a gente sempre pensa alto, eu quero o máximo,lógico, mas estou satisfeito com o que conseguimos até agora.Ao retornar para o Brasil, consegui uma divulgação na mídia que foi boa, mas poderia ter sido muito melhor. Mas não consegui nenhum patrocínio não, infelizmente.

Josué: Quais foram as análises das pessoas q te acompanharam, como por exemplo do seu técnico?

Marcos: que eu estou entre os cinco alunos dele de maior e mais rápida aprendizagem. E ele ensina isso há trinta anos. Eu fiquei satisfeito, não esperava que eu tivesse tanta facilidade. Sinceramente, há um caminho enorme ainda a percorrer, mas eu sai daqui sob os piores auspícios: "vai cair! Vai se quebrar todo!" e felizmente nada disso aconteceu.

Josué: Qual foi a receptividade das pessoas ao voltar ao Brasil, como amigos família e colegas de trabalho?

Marcos: Foi ótima cara. Teve aquele componente pessoal também, porque eu fiquei muito tempo fora, mas eu sei que ficaram orgulhosos de mim porque muita gente previu que eu fosse me acidentar.

Josué: Lá já é comum então para as pessoas verem um cego esquiando de forma competitiva?

Marcos: Sim, lá criancinhas de quatro ou cinco anos já esquiam direitinho.

Josué: E suas expectativas, quais são daqui para frente? você realmente vai se dedicar ou vai tentar conciliar as duas coisas trabalho e ser um atleta paraolímpico, o que você acha que vai rolar?

Cara, estou ainda distante de ser um atleta paraolímpico. Queria que pintasse algum projeto, algum patrocínio, quem sabe para o meio do ano no inverno sul-americano, mas por enquanto isso é bem distante, não tem nada acontecendo nesse sentido. Eu quero ter outra chance e tentar chegar a algum lugar. quem sabe ser o primeiro atleta brasileiro numa Paraolimpíada?

Josué: e o q você pôde identificar nas pessoas cegas ao descobrir essa modalidade já q no Brasil não é praticado?

Marcos: Cara, acho que tá muito longe das pessoas aqui, porque esportes de inverno não são difundidos para ninguém, deficientes ou não.

Josué: Se para conseguir apoio a modalidades como o futebol para cegos já é um desafio imagina para esquiar, ou você não vê assim?

Marcos: Vejo assim. Os custos são muito altos, porque é uma atividade praticada fora do Brasil, E eu trabalho com isso todos os dias, buscando patrocínio para modalidades praticadas aqui no quintal e nada acontece. Por isso que eu não tenho tantas esperanças de que o projeto do esqui possa ir à frente, infelizmente.

Josué: Marcos fico muito agradecido por sua gentileza pois também estou aprendendo muito com você. Desculpa por algo.

Marcos: Até três meses atrás, era um assunto totalmente desconhecido para mim também, EU nunca tinha visto neve.

Cego Brasileiro é Pioneiro na Inclusão de Esportes de Inverno

Marcos Lima


Marcos Lima, formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participa de uma experiência única como esquiador na República Tcheca.


Esquiando no escuro

Confira abaixo um vídeo exclusivo para o blog Pátria Inclusiva e aguarde uma reportagem completa com o atleta.