domingo, 15 de junho de 2008

Morcegos no futebol

O futebol é o esporte mais populoso do mundo. Paixão nacional de milhares de brasileiros, esta modalidade representa a alegria e esperança para muitas pessoas. Ao imaginarmos uma partida de futebol, temos logo a idéia de que para fazer um drible ou chutar a bola ao gol, dependemos exclusivamente da visão. Estamos completamente equivocados, a superação, e a sensibilidade do corpo transformam o ser humano, e aquilo que parecia ser impossível, torna-se possível aos olhos do homem. Em 1852, o jovem cego José Alves de Azevedo retorna ao País depois de ficar estudando por vários anos na França. O pioneiro do Sistema Braille no Brasil é chamado pelo então D. Pedro II que ao vê-lo exclama a histórica frase "A cegueira já quase não é mais uma desgraça". Não poderia imaginar ele que o Brasil do século XXI, seria a maior expressão de futebol para cegos do mundo.

A Universidade Federal de Santa Catarina, (UFSC) desenvolve trabalhos com esportes adaptados através do curso de educação física. As atividades começaram na década de 80, quando os professores de educação física perceberam a importância de trabalhar com estas pessoas em sua formação profissional e possibilitando aos acadêmicos a preparação para um novo mercado de trabalho. Atualmente a UFSC é a única universidade do país a contar com duas disciplinas voltadas para o atendimento especializado, são elas educação física especial com 72 horas de aula e metodologia dos esportes adaptados também com 72 horas de aula. Luciano Lazzaris Fernandes é professor de Educação física e coordenador do projeto Sábado no Campos, criado a mais de 10 anos para a prática dos esportes adaptados. De acordo com ele, o primeiro objetivo do programa é capacitar os acadêmicos no atendimento a esta população. O segundo é integrar a pessoa com deficiência na sociedade através do esporte oferecendo a eles melhores condições de vida. No total, 12 alunos do curso de Educação física recebem uma bolsa para o acompanhamento e treinamento desses atletas. Luciano diz que o maior número de participantes é formado por pessoas com deficiência física e visual. Os deficientes visuais são integrados nas modalidades de bocha, futebol para cegos, atletismo, natação, e xadrez. Os trabalhos de treinamento e preparação física para o futsal de cegos acontecem a dois anos na UFSC. A primeira formação de uma equipe ocorreu em 2005, quando os atletas alcançaram uma terceira colocação nos jogos Paraolímpicos abertos de Santa Catarina (PARAJASSC) realizado na cidade de Chapecó. O acadêmico e goleiro do time de Florianópolis Luiz Fernando Mafra esclarece, diferente do futsal convencional o fut 5, como é conhecido o futebol para cegos exige do jogador um maior contato com a bola para o seu deslocamento na quadra. O jogo é formado por quatro atletas na linha e o goleiro, único jogador com visão. Dentro da bola existe um guizo que emite um barulho semelhante á de um chacoalho. Com o girar da bola, os atletas acompanham seu movimento e aplicam suas jogadas. A modalidade é dividida em três categorias, classificadas de acordo com o grau de visão do atleta. Na categoria B1, todos os jogadores de linha são cegos. Já os atletas das categorias B2 e B3, possuem percepção visual.

A diferença está apenas na bola, que ao cego é identificada pelo guizo, enquanto que para o atleta baixa visão, é distinguida por uma cor chamativa, na maioria das vezes um laranja florescente.

As regras são as mesmas para ambas as classificações, destacando que os cegos utilizam uma venda nos olhos, que colocada sobre um tampão cirúrgico não possibilita nenhuma percepção luminosa ou visual no caso de um resido. Ressalta Luiz Fernando: "o primeiro contato é a avaliação dos aspectos de coordenação motora do participante.

Se for o caso de uma pessoa com baixa visão é colocado uma venda nos seus olhos para observar de que forma ele orienta-se na quadra. Para o atleta cego prevalece a sua capacidade de localização, acompanhando de que maneira ele movimenta-se em quadra.

De acordo com o acadêmico, são três os pontos fundamentais para sua participação na modalidade. O primeiro é o senso de deslocamento, o jogador deve saber o quanto pode correr ou não. O segundo é o senso de direcionamento que corresponde a seu alinhamento em quadra e por último o equilíbrio o qual determinará suas agilidades resultando na segurança do jogador. De acordo com ele, as primeiras atividades aplicadas no início do ano, estão voltadas para trabalhos como alongamentos e coletivos na formação de uma equipe preparada para competir. Luiz Fernando diz que a quadra é dividida em três partes:

Na defesa, o goleiro orienta a posição dos zagueiros, chamando a atenção do atleta para marcação. Na segunda parte, somente o treinador é quem pode dar as coordenadas, orientando o jogador em seu deslocamento nas laterais e meio da quadra. No campo adversário, o chamador posiciona-se atrás da goleira e chama a atenção dos atacantes para o momento exato do chute ao gol.

Esta função geralmente é feita por uma acadêmica, que se diferencia pela voz feminina. Durante uma cobrança de pênalti, o chamador bate com um metal nas duas traves da goleira, indicando um melhor direcionamento para o atleta. Algumas adaptações no regulamento da modalidade, são aplicadas pelo juiz na partida como a advertência ou expulsão para o atleta que colocar as mãos sobre a venda. De acordo com ele, o principal trabalho com o cego é a percepção auditiva que o aluno participante deve ter em relação ao movimento da bola. Não são observados aspectos como a idade do participante, mas de como ele foi orientado pela família. Se a criança cega foi estimulada a realizar atividades físicas e motoras, ela terá um preparo significativo. As convocações, feitas para a seleção brasileira de futebol de cinco para cegos ocorrem da mesma forma que no futebol convencional. Os jogadores são avaliados por integrantes da Confederação Brasileira de Desportos para cegos (CBDC), entidade responsável pela organização das diversas competições para cegos, em diferentes modalidades. Apesar de todas as demonstrações de capacidade e brilhantismo, problemas como a ausência de patrocinadores e as dificuldades de acessibilidade são as principais barreiras vivenciadas pelos atletas cegos. A equipe leva o nome da entidade que representa as pessoas com deficiência visual em Florianópolis. A (ACIC) Associação Catarinense Para Integração do Cego.

Luciano Lazzari coordenador do projeto. Sábado no Campos diz que ainda falta muito empenho por parte das entidades de apoio ao esporte adaptado . Segundo o professor a maioria das organizações não consideram a prática dos esportes como um agente importante no processo de reabilitação da pessoa com deficiência. Destaca também a falta de incentivo do poder público que não oferece nenhum respaldo expressivo aos atletas. Luciano diz "O esporte para as pessoas cegas vai poder mostrar a sociedade suas potencialidades e virtudes além de lhe dar preparo físico. "A partir do momento em que você tem mais agilidade e equilíbrio você tem condições de estar incluído no mercado de trabalho". Para o presidente da ACIC, Adilson Ventura a associação continuará priorizando a reabilitação das pessoas cegas Acrescenta o presidente: "temos total interesse em poder oferecer nosso apoio aos esportes adaptados, mas somente a partir do momento em que realmente haver a formação de uma equipe sólida".


História


Embora não haja um registro histórico, está modalidade começou a ser praticada em alguns países do mundo na década de XX, nos pátios de instituições de assistência ao cego. No Brasil o movimento teve seu início entre os anos de 1950 a 1960, em entidades como Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre-RS, e instituto Padre Chico, em São Paulo. As adaptações aplicadas na bola eram precárias e o futebol de 5 era praticado apenas como uma brincadeira prevalecendo o improviso. Tampinhas de garrafa além de outros materiais que emitissem barulho eram suficiente para os pioneiros da modalidade. O futebol para cegos, cresceu condicionado a pouca importância que as instituições destinavam ao esporte, havendo também o problema de ser praticado em grandes espaços devido á falta de uma estrutura adequada. Estas dificuldades e a preocupação com a segurança do atleta optou-se pelo futebol de salão. O futsal, passou a ter mais dinamismo resultante de suas dimensões serem mais reduzidas.

A bola passou por um longo período de experimentações como a utilização de um guizo em sua parte externa, mas que não dava condições adequadas de localização.

A primeira competição que se tem conhecimento ocorreu no Brasil em 1974, no Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre-RS. A Olimpíada Nacional Para o Deficiente

Visual contou com a participação de equipes de diferentes regiões do país. A bola tinha um guizo externo e os jogadores não usavam venda nos olhos, não havendo divisão por categorias. O massoterapeuta Augustinho da Silva de 46 anos atualmente mora em Florianópolis, participou da competição representando uma entidade de Porto Alegre.

Segundo ele em uma das partidas ocorreu um fato interessante. Uma equipe vinda de São Paulo colocou em quadra um jogador que possuía um expressivo resido visual e acabou fazendo o único gol da partida. Houve muita confusão por parte de alguns jogadores que foram para cima do juiz.

Mas foi somente em 1980, durante as olimpíadas das APAES que o futebol de 5 utilizou uma bola com o guizo interno. Trazida pelo professor pernambucano João Ferreira. Hoje essa bola é produzida pelos ministérios dos esportes através do programa Pintando a Liberdade, criado na cidade de Curitiba no início da década de 90 e que utilizou-se da mão de obra dos presidiários. Atualmente esta bola, é a única reconhecida pela International Blinds Sport (IBSA) organização que coordena os desportos para cegos no mundo.

Em janeiro de 1984 é fundada a associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC) conhecida hoje como Confederação Brasileira para Desportos para Cegos e que teve inicialmente atender exigências internacionais quanto á participação de cegos nas Paraolimpíadas de Nova York. O futebol de salão passou a exercer um papel fundamental na vida das pessoas cegas e colaborou para o crescimento das modalidades adaptadas no Brasil. Em 1981, é realizada a primeira edição do campeonato brasileiro para cegos em Porto Alegre-RS, consagrando-se como campeã a (ADVPAR), Associação dos Deficientes Visuais do Paraná.

A partir de 1984, começou-se a ser vendado os olhos dos jogadores para que fosse preservada a igualdade de condição de jogo entre eles. Ainda em 1980 a delegação paraolímpica do Brasil, composta por atletas de atletismo, levaram para os jogos de Nova York uma bola com guizo para ser apresentadas a outras delegações de diferentes países do mundo. O principal objetivo, era divulgar o futebol para cegos em todas as partes.

Mas foi em 1984 que o Brasil pela primeira vez participou de um torneio internacional de futebol para cegos em Cadê na Espanha.

O fut 5, ganhava cada vez mais espaço devido a seu fator integrante dos cegos na sociedade. Ainda em 1984 é criado o subcomitê da IBSA de futebol para cegos

resultando na unificação das regras entre países praticantes da modalidade. Atualmente existem cerca de 40 equipes de fut 5 no Brasil. Nosso país é recordista de títulos internacionais, ao lado de seu principal adversário a argentina dos quais somam dois mundiais da copa IBSA.

O Brasil também foi à única seleção a garantir medalha de ouro nos jogos paraolímpicos de Atenas em 2004. Os campeonatos organizados pela CBDC seguem uma classificação de acordo com a região das equipes. Os chamados regionais integram times de estados vizinhos que classificam-se para a disputa do título nacional, a Copa Brasil de futebol para cegos, reunindo as maiores expressões da modalidade. A competição é realizada em formato de torneio em diferentes regiões do Brasil, tendo uma única edição no ano.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Jairo da Silva uma Figura Catarinense nos Esportes Adaptados

São 11 anos de muita dedicação aos esportes adaptados. Jairo da Silva, participa ativamente de diversas modalidades desde 1997, conquistando muitas medalhas seja no atletismo,goaball,natação. Atualmente está jogando goaball, modalidade criada especialmente para pessoas com deficiência visual. Acompanhe minha entrevista com esse atleta catarinense, nascido em Florianópolis e que já trouxe muitas alegrias ao mundo dos esportes adaptados.Josué: Qual foi o momento mais marcante para você, ao longo desses anos como atleta? Jairo: Minha participação no campeonato brasileiro de natação, realizado em maio de 2001. Consegui nessa competição, a medalha de ouro nos 50 metros nado costa na cidade de São Paulo. Josué:: Como funciona a prática da natação para uma pessoa com deficiência visual? Jairo: Bem, o processo da disputa é o mesmo disputado na modalidade convencional, com poucas adaptações. Temos uma pessoa que chamamos de batedor. Quano o atleta está aproximando-se do final da raia, ele é tocado pelo batedor por meio de um instrumento, semelhante a uma vara de pescar. Dessa forma você pode fazer a conhecida virada olímpica e voltar ao ponto de largada.Josué: Como está sua participação no goaball? Estou treinando todas as terças,quintas e até nos finais de semana. A UFSC, por meio do projeto Sábado no Campos ofereçe todo espaço necessário, além de mobilizar professores e bolsistas do curso de educação física. Estamos treinando para disputar o torneio regional de goaball, como fase eliminatória para o campeonato brasileiro. Josué: Todos os participantes que estão treinando, terão oportunidade? Jairo: Com certeza, do grupo somente o Paulo Roberto, é quem ficará de fora por determinação da Confederação Brasileira de Desportos para Cegos CBDC. Josué: Qual seria sua mensagem para os leitores do Pátria Inclusiva? Jairo: Quero agradecer pelo espaço do seu blog e convidar os leitores para visitar minha página pessoal que também trata de inclusão.Visitem www.site.pop.com.br/paginadojairo

domingo, 25 de maio de 2008

Atleta catarinense participa de treinos para as paraolímpiadas da China

Paulo Roberto Homem atual na equipe brasileira de goalball


Paulo Roberto Homem é o primeiro atleta com deficiência visual de Santa Catarina, a ser convocado para treinar junto à seleção brasileira masculina de Goalball.
Associado da Associação Catarinense Para Integração do Cego - ACIC, Paulo começou a participar da modalidade através do projeto Sábado no Campos, desenvolvido pelocurso de educação física da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC em parceria com a ACIC, entidade representada pelo atleta em diversos torneios como, por exemplo, a Copa Brasil de Goalball onde Paulo apresentou suas habilidades e agora está treinando com a seleção em fase preparatória para os jogos paraolímpicos de Pequim.
Acompanhe abaixo trechos da entrevista do atleta para o blog Pátria Inclusiva e saiba um pouco mais sobre essa modalidade.
Josué: Você está exatamente treinando aonde?
Paulo: Estou nesse momento treinando aqui na Paraíba, descansando no hotel e depois vamos voltar para o ginásio.
Josué: Perfeito. E quantos atletas estão treinando nessa fase?
Paulo: Estamos em oito atletas, e desse grupo ficarão somente seis jogadores que irão compor a seleção. Os selecionados serão inscritos para os jogos paraolímpicosde Pequim na China.
Josué: Quantos atletas foram convocados desde o início da primeira etapa?
Paulo: Inicialmente foram convocados dez atletas.
Josué: Podemos considerar que seria a última fase?
Paulo: Em termos de corte, sim.
Josué: Como está sendo seu rendimento?
Paulo: Satisfatório. Mas o nível é muito alto. Melhorei muito desde a última etapa dos treinos. A responsabilidade da comissão técnica é muito grande em decidiros seis atletas, pois todos têm boas chances de ir para China.
Josué: como estão sendo realizados os treinamentos em termos de preparação?
Paulo: Estamos treinando três horas pela manhã e três horas à tarde. Começamos no dia 19 de maio e vamos treinar até o dia 29.
Josué: Quantos profissionais estão envolvidos no acompanhamento dos treinos?
Paulo: Ao total são sinco pessoas incluindo técnico, massagista e ect.
Josué: Você é o único representante da região sul?
Paulo: De Santa Catarina sim. Mas também a representante do Paraná.
Josué: Agradeço por sua disponibilidade em atender-me. Estamos todos torcendo por você mano. Como o Brasil, ainda não possui medalhas nessa categoria nos jogos paraolímpicosvocê poderá entrar para a história.
Paulo: Vamos ver se vai dar tudo certo para a gente representar floripa na China.
Goalball
Esta modalidade foi criada especialmente para os deficientes visuais, ao contrário de outras, que foram adaptadas. Em 1946 o austríaco Hanz Lorenzene o alemão Sepp Reindle desenvolveram uma atividade para ajudar na reabilitação de soldados veteranos que haviam adquirido a deficiência visual durante a SegundaGuerra Mundial. Era o goalball.
Nos Jogos Paraolímpicos de Toronto, em 1976, o esporte foi disputado em caráter de exibição e a partir dos Jogos de Arnhem 1980, na Holanda, entrou parao programa da competição. As mulheres fizeram sua primeira participação nos Jogos de Nova York 1984. Em 1978, na Áustria, foi realizado o primeiro Campeonato Mundialda modalidade. Atualmente é praticado nos cinco continentes do mundo.
Como é jogado
É um esporte coletivo, onde participam duas equipes de três jogadores, com no máximo, mais três atletas reservas. Competem, na mesma classe, atletas classificadoscomo B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da International Blind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculina e feminina.
O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajetória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade deorientação espacial do jogador para saber onde está localizada. Por isso o silêncio absoluto é muito importante para o desenvolvimento da partida.
O principal objetivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de gols em dois tempos de 10 minutos jogados.Os três jogadores atacam e defendem.
O local de competição deve ser um ginásio com uma quadra retangular, dividida em duas metades por uma linha central, com um gol (de 9 metros de largurae 1,3 de altura) em cada extremo. Não é permitido o uso de próteses, óculos ou mesmo lentes de contato. Todo jogador deve usar vendas de pano totalmente opacas (ouóculos opacos de esqui), de modo que aquele que possui visão residual não possa obter vantagem sobre um companheiro seu totalmente cego.
No Brasil
O esporte chegou ao Brasil através do professor Steven Dubner no Clube de Apoio ao Deficiente Visual (CADEVI), de São Paulo, em 1985.
Foi implantado como modalidade oficial da ABDC pelo professor Mario Sergio Fontes, que levou o goalball inicialmente para a Associação dos DeficientesVisuais do Paraná (ADEVIPAR), em 1986 e, no ano seguinte realizou o primeiro Campeonato Brasileiro, na cidade de Uberlândia (MG).
Hoje, 46 equipes masculinas e 43 femininas, filiadas à Confederação Brasileira de Desportos para Cegos - CBDC praticam essa modalidade.
Fonte:

sábado, 24 de maio de 2008

DESAFIO BRASILEIRO SOBRE O GELO

O treinamento de Marcos Henrique Lima iniciou no dia 20 de janeiro na cidade de Jeseník, nas montanhas da República Tcheca. Organizada pelos professores docurso de educação física adaptada da Universidade Palackého de Olomouc. Marcos passou a ser o primeiro brasileiro cego a ter participação nas oficinas de esqui direcionadasa prática dos esportes de inverno. O idealizador deste projeto foi o professor de educação física Gabriel Mayr, especialista em esporte para cegos que acompanhouo treinamento para se tornar técnico e guia de Marcos. O responsável pelas etapas de formação dos dois brasileiros foi o técnico da seleção Tcheca de esqui para deficientes visuais Zbynek Janecka. Todo o registro esteve aos cuidados da jornalista Thaís Castro, diretora cultural da URECE, entidade apoiadora do projeto e da qual Marcos é vice-presidente. De acordo com a entrevista de Marcos a divulgação promovida pelos veículos de comunicação foram um dos objetivos alcançados pelo projeto ganhando até matérias de âmbito internacional destacado no vídeo abaixo pela jornalista Maura Ponce de Leonno postado no jogo extra.
Outro ponto destacado na entrevista de Marcos Lima na postagem anterior estava relacionado com o tempo necessário de descanso para a recuperação do esquiador.
Relata Marcos em seu blog:
Terceiro Dia, a Crise.
No terceiro dia de aprendizado, o esquiador iniciante (principalmente o esquiador cego), normalmente apresenta uma queda acentuada no seu rendimento. O que acontece é que o cérebro recebeu tantas novas informações nos dois dias anteriores, que este necessita de um tempo para processá-las para só depois poder armazená-las corretamente. Não, fiquem tranqüilos que isso não é uma desculpa para justificar um mau desempenho. São palavras do meu professor, que, felizmente, foram ditas antes do dia começar. Assim eu não fiquei me sentindo tão mal quando não consegui realizar com a mesma desenvoltura movimentos que eu vinha fazendo bem até ontem.
Toda a perseverança de Marcos Lima foi com certeza o principal ingrediente para o sucesso de sua empreitada, que apesar de ainda estar longe da realidade dos esportes adaptados de atletas brasileiros é o referencial para a sociedade de modo geral indicando que a pessoa com deficiência pode superar e suportar inúmeros desafios.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrevista com Marcos LimaPrimeiro Cego Brasileiro a

Marcos Lima


Acompanhe minha entrevista com o primeiro cego do Brasil a esquiar na República Tcheca.


Josué: Você acredita que a cegueira ajudou a vencer o medo, pelo fato de não estar enxergando?

Marcos: Ajudou. Claro que atrapalha porque a gente tem medo do desconhecido, não só a gente cego, mas a gente ser humano. O ponto está em saber se seria maior o medo do desconhecido ou o medo da altura. E eu sinceramente, acho que o medo da altura seria maior, portanto eu acredito que tenha levado alguma vantagem, risos. Mas me ajudou muito o fato de sempre ter praticado esporte, de ser jogador de futebol, porque eu já tinha um conhecimento corporal que me ajudou muito. Não só porque eu sabia cair e por isso não tinha medo quando caía, mas também porque no futebol eu estou acostumado a correr contra o desconhecido, de não saber exatamente o que está à minha frente e ainda assim correr. E isso eu fazia no esqui. Claro, que o futebol me ajudou muito. Teve um dia em que o meu treinador foi me ensinar a cair, e ele ficou espantado porque ele descobriu que eu sabia cair. E eu só sabia cair porque se eu não souber cair no futebol, eu não posso jogar.

Josué: você já havia passado por alguma experiência semelhante antes?

Marcos: Nunca tinha tido nenhuma experiência com esqui não. Eu. Conheci o equipamento de esqui numa loja quando cheguei na Bélgica.

Josué: A prática do esqui em relação ao futebol, apresenta situações diferentes em termos de velocidade ou para você é a mesma coisa?

Marcos: Mas eu não comecei logo a plena velocidade, eu comecei com uma pessoa me acompanhando a cada movimento. A velocidade e as curvas, que é o que dá mais medo, vem aos poucos. E, quando elas vem já estava acostumado. Não saí esquiando profissionalmente, precisaria de mais algum tempo para isso, mas minha evolução foi muito elogiada. E eu tenho certeza que foi pelos conhecimentos corporais que eu já levava. Se fosse um cego que nunca praticou esporte, certamente ele teria tido muito mais dificuldades.

Josué: Fale um pouco sobre o projeto, e o exercício do bambu?

Marcos: Fundei com alguns amigos. O projeto foi meu e do Gabriel Mayur, que é o gerente de projetos da Urece e que está cursando mestrado em desporto adaptado na República Tcheca. Abriu um curso de esqui para deficientes na universidade dele e ele me chamou para fazer parte. E daí corremos atrás de parceiros para que a viagem fosse possível. Conseguimos levar uma jornalista para registrar a experiência, e isso proporcionou a divulgação do evento, já que as TVs só aceitavam fazer a matéria se tivessem imagens feitas de eu esquiando. O exercício do bambu, você viu isso, hehe. Foi muito engraçado, porque eu não sabia de onde vinha a pancada para me derrubar. Me ajudou a ter uma reação melhor, um reflexo que sem dúvida foi importante para mim nas montanhas.

Josué: Qual era o tempo em média de cada atuação sua? havia um tempo pré-determinado ou era de acordo com o q você poderia suportar em termos de condições climáticas e preparo físico?

Marcos: eu não estava competindo. Estava la'treinando e aprendendo, não necessariamente nessa mesma ordem. Por isso, o tempo quem determinava eram meus treinadores.Em geral, cada sessão tinha uma ou duas horas pela manhã e o mesmo tempo à tarde. Mas as vezes o treinador exigia que eu ficasse um dia de repouso ou no mínimo um período, porque ele acredita que os deficientes visuais têm certa dificuldadede assimilar movimentos muito novos por longos períodos sem descanso. No terceiro dia, quando eu fui praticar quando o certo seria descansar. Foi o dia em que eu mais errei, mas errar e cair também faz parte. Meu treinador disse que eu precisaria daquele descanso para que o meu cérebro pudesse processar todos os movimentos. Mas como a temporada era curta, eu tinha que aproveitar todos os momentos.

Josué: E qual seria o seu objetivo a ser alcançado? Dentro desse projeto? Competir?

Marcos: O meu treinamento fez parte do projeto de eu me tornar o primeiro cego brasileiro a esquiar, porque queríamos, com isso, não só chamar a atenção para aurece 9a associação que conseguiu esse projeto) como também para os deficientes visuais em geral. Esqui é um esporte radical e então se um cego pode fazer,ele pode fazer muito mais coisas do que as pessoas em geral imagina. Isso foi uma forma de tentar quebrar um pouco o preconceito que a gente vive diariamente. Mas difícil do que esquiar , é andar pelas cidades Claro que se tiver patrocínio e condições, eu quero continuar, tentar chegar a algum patamar internacional,mas o primeiro passo tinha que ser dado e felizmente a gente conseguiu ser pioneiro nisso Para chegar a competir, eu tenho que treinar muito mais. o tempo estipulado de aprendizagem para um deficiente visual é de três invernos. Eu, em um inverno,consegui progredir dois invernos. Ou seja, para eu começar a pensar em competir, ainda teria que passar por mais um período de aprendizagem e então me inscrever e começar a disputar. Daí para chegar a uma Paraolimpíada, tem um longo caminho pela frente. Mas a gente sempre pensa alto, eu quero o máximo,lógico, mas estou satisfeito com o que conseguimos até agora.Ao retornar para o Brasil, consegui uma divulgação na mídia que foi boa, mas poderia ter sido muito melhor. Mas não consegui nenhum patrocínio não, infelizmente.

Josué: Quais foram as análises das pessoas q te acompanharam, como por exemplo do seu técnico?

Marcos: que eu estou entre os cinco alunos dele de maior e mais rápida aprendizagem. E ele ensina isso há trinta anos. Eu fiquei satisfeito, não esperava que eu tivesse tanta facilidade. Sinceramente, há um caminho enorme ainda a percorrer, mas eu sai daqui sob os piores auspícios: "vai cair! Vai se quebrar todo!" e felizmente nada disso aconteceu.

Josué: Qual foi a receptividade das pessoas ao voltar ao Brasil, como amigos família e colegas de trabalho?

Marcos: Foi ótima cara. Teve aquele componente pessoal também, porque eu fiquei muito tempo fora, mas eu sei que ficaram orgulhosos de mim porque muita gente previu que eu fosse me acidentar.

Josué: Lá já é comum então para as pessoas verem um cego esquiando de forma competitiva?

Marcos: Sim, lá criancinhas de quatro ou cinco anos já esquiam direitinho.

Josué: E suas expectativas, quais são daqui para frente? você realmente vai se dedicar ou vai tentar conciliar as duas coisas trabalho e ser um atleta paraolímpico, o que você acha que vai rolar?

Cara, estou ainda distante de ser um atleta paraolímpico. Queria que pintasse algum projeto, algum patrocínio, quem sabe para o meio do ano no inverno sul-americano, mas por enquanto isso é bem distante, não tem nada acontecendo nesse sentido. Eu quero ter outra chance e tentar chegar a algum lugar. quem sabe ser o primeiro atleta brasileiro numa Paraolimpíada?

Josué: e o q você pôde identificar nas pessoas cegas ao descobrir essa modalidade já q no Brasil não é praticado?

Marcos: Cara, acho que tá muito longe das pessoas aqui, porque esportes de inverno não são difundidos para ninguém, deficientes ou não.

Josué: Se para conseguir apoio a modalidades como o futebol para cegos já é um desafio imagina para esquiar, ou você não vê assim?

Marcos: Vejo assim. Os custos são muito altos, porque é uma atividade praticada fora do Brasil, E eu trabalho com isso todos os dias, buscando patrocínio para modalidades praticadas aqui no quintal e nada acontece. Por isso que eu não tenho tantas esperanças de que o projeto do esqui possa ir à frente, infelizmente.

Josué: Marcos fico muito agradecido por sua gentileza pois também estou aprendendo muito com você. Desculpa por algo.

Marcos: Até três meses atrás, era um assunto totalmente desconhecido para mim também, EU nunca tinha visto neve.

Cego Brasileiro é Pioneiro na Inclusão de Esportes de Inverno

Marcos Lima


Marcos Lima, formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), participa de uma experiência única como esquiador na República Tcheca.


Esquiando no escuro

Confira abaixo um vídeo exclusivo para o blog Pátria Inclusiva e aguarde uma reportagem completa com o atleta.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

HELEN KELLER, UM MITO DA INCLUSÃO SOCIAL NO MUNDO

Helen Keller (1880-1968) foi uma jovem norte-americana que aos 19 meses, depois de grave doença, ficou cega e surda e quase muda em consequênciada surdez. Nestas condições, sem poder ver nem ouvir, passou a depender total e completamente do sentido do tacto para comunicar com os outros seres humanos.

Durante os anos que se seguiram conheceu apenas as reacções próprias dos instintos naturais, pois os acessos de cólera levavam-na a obter dfacilmente tudoo que era necessário à sua existência material.A vida de Helena Keller mudou completamente por volta dos 7 anos. Miguel Anagnos, Director da Perkins Institution, de Boston, recomendou a ex-educanda AnaSullivan para tentar a sua educação.


Jovem de 20 anos, filha de imigrantes irlandeses, Ana Sullivan estivera cega num período da sua vida em consequênciade tracoma, mas duas operações haviam-lhe restituído praticamente a visão. Helena Keller, embora dotada de vigorosa saúde física e de intelectualidadeainda relativamente intacta, teria permanecido no mundo animal se, nos limites do tempo útil para a sua recuperação, não houvesse sido entregue à extraordináriaprofessora que lhe forneceu o elemento fundamental para o desenvolvimento da inteligência - a linguagem.


Assim, e vencendo todas as dificuldades, veioa ser uma pessoa distinta e muito instruída, que se formou numa Universidade e obteve brilhantes notas nos exames de idiomas.A vida mental de Helena Keller foi muito activa, repartindo-se entre a meditação, a leitura, a conversa com os seus íntimos, o cuidado de uma numerosa correspondênciae os seus trabalhos literários. O seu estilo foi adquirindo categoria e evoluiu com o tempo.


A princípio escrevia sobre tudo: clima, história, edificações e geografia das terras que ia estudando; reais e imaginários companheiros da sua idade; paísesde fadas...pelo seu direito de viver, de se instruir e ter uma profissão. Lia muito sobre os problemas da cegueira (a unificação do Sistema Braille, os métodos dede poder discutir e escrever competentemente a respeito deles.A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM. - Helena Keller era cega, surda e muda desde a mais baixa infância.


A maneira como esta tripla deficiência foi compensada atraiuMuito resumidamente, referiremos que foi suficiente traçar-lhe certos sinais na mão, enquanto ela tocava os objectos, para que em vinte dias compreendesseque toda a ideia está representada por um signo especial, graças ao qual os homens podem comunicar entre si. Um mês e meio mais tarde conhecia pelo tactoos caracteres do alfabeto braille; passado mais um mês conseguia escrever uma carta a um dos seus primos. Ao cabo de três anos tinha adquirido uma quantidadede ideias e de palavras suficientes para conversar, ler com inteligência e escrever em bom inglês.


Houve então a ideia de a fazer tocar os movimentos da faringe, dos lábios e da língua que acompanham a palavra. Imitando estes movimentos, conseguiu reproduziros sons que se articulavam na sua presença. Um mês depois da primeira aula de articulação, num som cavo e aspirado, pronunciou a célebre frase "já nãosou muda."Ana Sullivan prosseguiu este paciente trabalho com Helena Keller durante toda a vida. Os começos foram difíceis, mas a coragem de ambas levou Helena a poderfalar, isto é, a poder exprimir as ideias pelo som.


Nunca chegou a falar em público de maneira satisfatória, mas, em compensação, logrou especializar-sena leitura de lábios pelas vibrações. Pondo a mão nos lábios do seu interlocutor, conseguia perceber as suas palavras com os dedos, principalmente quandoa voz era clara e sonora. Enfim, não contente com dominar o seu próprio idioma, estudou o francês,o alemão, o latim e o grego.


Escrevia corretamente o francês, que começou a estudar aos 9 anos e a seu pedido; estudou o alemão para conhecer directamenteas grandes obras da literatura germânica; estudou também o latim e o grego, que lhe exigiram para os seus exames universitários.


Helena Keller compreendeu que toda a ideia está representada por um signo especial; e, servindo-se apenas do sentido do tacto, rasgou três caminhos parao mundo das ideias.Fonte: José Antonio Baptista Porto 23 de junho de 2005