quarta-feira, 2 de abril de 2008

Exemplo de superação marca a história da inclusão social no Brasil

Esse sou eu no setor braile da Biblioteca Pública de Santa Catarina


Patrono da educação dos cegos no Brasil, José Alves de Azevedo é uma das figuras mais importantes dos últimos anos. Escrever sobre este jovem herói é sentir na alma o mais precioso agradecimento por sua existência. Sonhador e corajoso, ele demonstrou a real capacidade das pessoas cegas em pleno século XIX, cruzou o oceano, adquiriu conhecimentos e domínio do sistema Braille e trouxe ao nosso país oportunidades até então desconhecidas para as pessoas sem visão. Sua trajetória de vida foi curta e pouco se sabe a seu respeito, mas os registros encontrados são suficientes para refletirmos sobre a cidadania das pessoas com deficiência em meio a tantos preconceitos.

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 8 de abril de 1834, filho de Manoel Alves de Azevedo. Apesar de todos os esforços da família no sentido de combater a cegueira do garoto, utilizando-se de todos os recursos oferecidos pela medicina da época, Azevedo foi destinado a viver sem visão. Dotado de uma inteligência extremamente aguçada, ele demonstrava suas percepções bastante avançadas na infância. Com ar de curiosidade tocava em todos os objetos em sua volta. Porém, o destino desse menino não seria condenado ao analfabetismo, condição vivida pelas pessoas cegas nesse período. Surge, então, em sua vida o renomado Dr. Maximiliano Antônio Lemos, amigo da família Azevedo e homem de boas relações políticas. Conhecedor de uma escola para cegos em Paris, na França, Maximiliano tentou durante cinco anos (1839-1844), de todas as formas convencerem a família do menino sobre o quanto seria importante enviá-lo para a Europa, a fim de buscar instruções e novos conhecimentos em uma instituição especializada.

Finalmente foi matriculado no Real Instituto dos Jovens Cegos de Paris, aos dez anos de idade. Levou em sua bagagem um espírito de jovem guerreiro, predestinado a voltar para o Brasil e oferecer aos seus compatriotas cegos à rica oportunidade de ler e escrever. Assim, abriu caminhos na educação dos cegos brasileiros.

Por seis anos, permaneceu na França e estudou na mesma escola de Louis Braille, jovem cego inventor do sistema Braille e que provavelmente teria sido um de seus professores.

Retornando ao Brasil

Preparado para o convívio social e reabilitado, José Alves de Azevedo chegou da Europa no dia 14 de dezembro de 1850, com o propósito de divulgar o sistema Braille e criar uma instituição semelhante à qual havia estudado. Nos primeiros meses no Brasil procurou palestrar sobre a importância da educação dos cegos nas comunidades e salões da Corte, em casas de família, sendo o primeiro professor cego brasileiro. Alfabetizou crianças e filhos de figuras importantes da capital imperial. Sua primeira aluna foi Adélia Sigaud, filha de Francisco Xavier Sigaud, médico da corte do imperador, a qual viabilizou os sonhos do professor. Marcada uma entrevista pelo Dr. Sigaud, Azevedo demonstrou suas habilidades ao ler e escrever em Braille. Então o imperador mencionou a memorável frase: "A cegueira não é quase uma desgraça". Nesse período, inicia-se o processo de ensino através de Adélia Sigaud, que passou a ser educadora e a primeira cega a ler e escrever no Brasil.

Com o incentivo do Imperador, José Alves de Azevedo trabalhou na projeção do Instituto Imperial dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro. O jovem idealizador, vítima da tuberculose, faleceu no dia 17 de março de 1854, aos 20 anos, seis meses antes da fundação do Instituto.

O precursor do sistema Braille expressou seu sucesso como conhecedor da cultura nacional, pesquisando a história do País nos acervos da biblioteca nacional.

Escreveu manuscritos e desempenhou seu talento também na música. Seus ideais estiveram sempre vivos na expectativa de viabilizar a educação aos cegos brasileiros.
Sua glória manteve-se à altura de grandes empreendedores, deixando sua marca na construção de um centro educacional referência nacional até hoje, o IBC.

As pessoas cegas nas regiões interioranas do Brasil ainda enfrentam desafios no que diz respeito a sua integração na sociedade. A super proteção dos pais gera insegurança nas pessoas com deficiência, que em sua maioria acabam formando uma personalidade imatura. Este quadro está ligado diretamente com a falta de incentivo por parte do governo, o qual deveria aplicar políticas de acessibilidade no currículo das escolas e no investimento em projetos sociais. Atualmente a ONCE (Organização Nacional dos Cegos Espanhóis) é uma das maiores entidades dos movimentos de associativismo do mundo. Também é criadora de inúmeros programas e fabricante de equipamentos.

Uma de suas parcerias com o governo Espanhol destina boa parte das arrecadações da loteria federal a favor das pessoas cegas.

De acordo com o Censo demográfico de 2000, o déficit educacional destas pessoas é em média um ano menor em relação aos estudantes matriculados na rede de ensino. É preciso que as lideranças das comunidades tomem ações no sentido de apoiar e fiscalizar juntamente com as entidades competentes a inclusão dos cegos. Como cidadãos, podemos encontrar milhares Josés de Azevedo, homens e mulheres que estão aguardando uma oportunidade para demonstrar seus talentos, cada um de nós pode ser a porta para a realização de brasileiros e brasileiras que ainda vivem no esquecimento.

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